sexta-feira, 28 de junho de 2013

Bulgakov: Mestre e Margarita & Coração de Cão

Bulgakov só teve sorte como escritor depois de sua morte, sua vida era instável, cheio de portas bem fechadas. Suas tentativas de lutar na guerra civil de 1918-1920 falhou. A guerra sempre lhe pegava. Ele foi convocado como um médico da então República Independente Ucraniana. Quando ele fugiu para o Cáucaso foi mobilizado como médico da Guarda Branca e no fim da guerra civil, ele se encontrava no Exército Vermelho. Sem outras opções, ele eventualmente decidiu que sua única opção era de alguma se assimilar na confusa e nova realidade soviética. Sua determinação era fraca e sua tentativa de assimilar não teve sucesso. Enquanto no Cáucaso, Bulgakov planejava emigrar do país devastado pela guerra. Sua incapacidade de executar esse plano deixou uma sombra escura sobre sua visão do futuro.

Em 1921 Bulgakov vivia em Moscou e escrevia relatórios, artigos satíricos e resenhas para várias publicações, incluindo o para o jornal do proletário Gudok e Rabotchiy (O Trabalhador). Através de seus artigos, ele aprendeu a rir do novo país soviético sem despertar a ira de ninguém. A censura até então estava engatinhando e era quase inativa e através de um jornal, sozinho, ao longo de alguns anos, ele foi capaz de publicar cerca de 120 peças satíricas e  comentários. Mas esse gênero parecia muito restritivo para Bulgakov. Ele queria ir mais profundo. Ele tinha vivido tanto os anos de revolução, quanto da guerra civil, ele tinha muita  experiência, entendida tanto! De 1923 a 1924, ele escreveu “A Guarda Branca”, uma coleção de histórias, Diaboliad, e a novela “Ovos Fatais”. Seu primeiro livro foi publicado e notado por ambos os leitores e críticos.

Então, em 1925, ele escreveu “Coração de Cão” ingenuamente imaginava que ele seria capaz de publicar este trabalho. Mas em 1925 a censura estava amadurecendo, assim como a NKVD. Escritores estavam sendo observados, e tinham suas conversas anotadas. Escritores com antecedentes burgueses eram, naturalmente, a primeira preocupação da NKVD e Bulgakov certamente caiu nessa categoria. Seu pai tinha sido um professor da Academia Teológica de Kiev e sua mãe uma professora na escola preparatória aristocrática. Os longos braços da polícia secreta chegariam aos escritores proletários só um pouco mais tarde.

O manuscrito de “Coração de Cão” não tinha chegou a editora pois seu apartamento foi revistado e o manuscrito confiscado. Não seria publicado até 1968, 28 anos após a morte do escritor. Desde a revista a seu apartamento, a vida de Bulgakov mudou radicalmente. Ele foi destruído dentro da imprensa soviética. Durante sua vida nenhum outro dos seus livros seriam publicados.  Ele tentou ganhar a vida escrevendo peças de teatro. Algumas delas foram produzidas, mas muitas não foram. Bulgakov e sua esposa, muitas vezes passavam fome, sem meios para comprar comida. Bulgakov escreveu a Maxim Gorky e membros da Politbyro, pedindo-lhes para arranjar algum emprego ou deixá-lo ir viver no exterior.

Eventualmente Bulgakov escreveu a Stalin pedindo qualquer tipo de trabalho, mesmo como assistente de diretor de teatro. E aqui a qualidade mística da obra de Bulgakov parece se transferir a própria realidade do escritor. Poucos dias depois, ele recebeu um telefonema do próprio Joseph Stalin. Stalin perguntou a respeito de como as coisas estavam indo para o escritor. Bulgakov, então, listou todas as suas queixas e pediu ajuda para encontrar trabalho. Stalin arranjou para Bulgakov um emprego como assistente de direção no Teatr Maly.

A estranha relação entre Stalin e Bulgakov sempre me fascinou. Stalin leu e criticou publicamente as peças de Bulgakov e ainda assim ele nunca procurou eliminá-lo. Bulgakov nunca foi denunciado como um 'inimigo do povo'. Ele nunca foi preso e enviado para um campo de concentração. Uma das últimas peças de Bulgakov, Batum, foi sobre as atividades revolucionárias de Stalin ainda jovem. Stalin pessoalmente proibiu a peça, declarando que Bulgakov estava tentando conquistá-lo. Se os rumores são verdadeiros, Stalin se ofendeu com o retrato de sua pessoa criado por Bulgakov, pois o retratava como uma pessoa muito gentil e amável.

De 1928 até o fim de sua vida, Bulgakov escreveu e reescreveu seu romance mais famoso, “Mestre e Margarita”. Ele nunca chegou a terminar de reescrevê-lo. O “Coração de Cão”, por outro lado, chegou até nós em sua última forma e, nesta obra maravilhosamente raivosa, vemos a União Soviética da década de 1920, liderada por cozinheiros analfabetos e zeladores. Também se vislumbra os restos da Rússia pré-revolucionária, em que o escritor sentia claramente um grande sentimento de perda.  Também, neste caso, observamos como ele pode examinar um paciente muito doente. O olhar do médico é severo, mas um pouco enevoado, como um usuário de morfina decora a realidade com sua imaginação fértil.




A HISTÓRIA: O diabo, o seu gato acrobático e outros comparsas vieram à Moscou de Stalin para causar estragos hilários e surreais na vida dos escritores, críticos e burocratas que perderam contato com seus sentimentos. Satanás envia alguns para o hospício, encena uma peça diabólica dentro de um jogo, e presenteia a lírica Margarita com um passeio fantástico de redemoinhos como uma feiticeira terminando em um baile de máscaras satânicas, onde ela procura por seu amante, um escritor conhecido como "Mestre". O Mestre está está escrevendo seu romance que aparece simultaneamente no palco. Sua obra, politicamente reprimida, centra-se sobre o dilema moral de Pôncio Pilatos na Jerusalém bíblica. Tanto os personagens de seu livro quanto os personagens nas ruas de Moscou, lançam luzes e sombras entorno deles, mesmo que eles vivam em mundos separados.





A HISTÓRIA: A ação é centrada nas dificuldades encontradas pelo professor Preobrajansky, um médico inovador especialista em rejuvenescimento sexual (através da implantação de órgãos), e sua batalha contra o comitê de gestão de residências, o comitê quer que o Professor abra a mão de alguns de seus muitos quartos. Felizmente o professor (argumenta que é necessário, devido a sua demanda de trabalho, mais espaço) foi capaz de melhorar a vida sexual de algumas pessoas muito bem colocadas e por isso, sua vida é protegida e enriquecida por raridades como carne fresca e vinhos franceses. Mas quando o professor leva em um cachorro vira-lata, Sharik, e transplanta testículos humanos e uma glândula pituitária em seu corpo magro, seus problemas começam a se multiplicar. Sharik não só aprende a andar de pé e falar, mas torna-se "o camarada Sharikov", o líder da Administração Moscovita de Propriedades Comunais, encarregado de exterminar os gatos de rua. Ele também cita Marx e Engels, bebe a vodka do professor, quebra janelas e a mesa de jantar, belisca a empregada, e refere-se carinhosamente ao seu benfeitor como "pai", para grande irritação do último. Eventualmente a paciência de Preobrajansky chega ao fim (e convencido de que uma vez cachorro, sempre um cachorro), realiza uma operação inversa, retornando Sharik ao seu antigo estado criando uma confusão quando as autoridades chegam em busca do controverso "Camarada Sharikov".


Recomendações: 



Trailer do filme "Coração de Cão"
http://www.youtube.com/watch?v=R-2pOQcbFx4

Serie de TV "Mestre e Margarita" (com legendas em PT)
http://www.youtube.com/watch?v=pTnFTlVQe4Q


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