sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O Mito da Ciência Exata

A última esperança da física mecânica clássica era de alcançar um ponto o qual todo casualismo pudesse ser deduzido e explicado. Os métodos da física clássica, em outras palavras, estavam apontados para a descoberta de uma lei universal. Este determinismo mecânico se mostra claramente na teoria de La Place, na qual descreve o mundo como um sistema de pontos materiais com relações fixas uns com os outros. Se estas relações são conhecidas, se as posições e os movimentos são conhecidos para qualquer tempo específico, então é possível, através do uso de equações diferenciais para frente e para trás, determinar o estado do mundo em qualquer momento do passado ou do futuro. Por exemplo, se nós obtivermos as condições da teoria de La Place, nós poderíamos ser capazes de redescobrir os trabalhos perdidos de Praxiteles ou dos pintores Gregos.

O problema dos limites dentro dos quais a física pode ser aplicada nunca é mencionado, ou a questão se as leis da natureza pode ou não estarem mudando com o curso do tempo.

Este determinismo restrito está, no momento, desaparecendo das leis das físicas que, em teoria, aparentam ser nada mais do que resultados estatísticos. A hipótese que a luz consiste de quantas e a apresentação da mecânica quântica por Heisenberg não pode mais ser reconciliada com os conceitos antigos. A mecânica quântica de Heisenberg, em particular, demonstra que nenhum método de medida pode obter dados absolutamente exatos de eventos minutos.

Esta hipótese da física teórica reflete um ato de resignação na mente dos físicos, em outras palavras, uma renúncia da tentativa de ir além de certas limitações. Eles restringem a validade das leis físicas em uma área limitada.[...] O conceito do universo então se torna mais elástico.

As propostas para esse efeito, no entanto, demonstram o desejo crescente de várias ciências para se tornar filosoficamente legítima. Isso é mais evidente na física, uma ciência que está virando mais uma vez filosofia, particularmente na sua ocupação com o conceito de tempo. Além disso, a física esta inconfundivelmente voltando-se para a teologia, e isso não é surpreendente. Para um cientista exato que acredita que ele se libertou de problemas teológicos, que está preocupado apenas com uma verdade e uma realidade que não conhecem o dogma, está entregando-se ao auto-engano. Ele pode fazer tais afirmações e fingir que ele está preocupado apenas com o conhecimento das leis que regem os processos da natureza. Que há ainda muito a ser concedido. Mas esse conhecimento não pode ser isolado e quem tenta isolar, consequentemente, não conseguirá uma plataforma independente para ficar; ele simplesmente perde de vista as inter-relações de todas as coisas. A teoria da evolução, os problemas dos fatores, a teoria da seleção – todas elas converge na ideia da criação. Dentro de outras, estas teorias dependem se nós assumimos um único ato de criação ou uma criação continua.

O problema da casualidade não pode ser tratado sem considerar a questão do livre-arbítrio ou determinação, e esta questão é intimamente ligada as doutrinas religiosas de predestinação. O mesmo é verdade para o problema de formas pré-estabelecidas e de toda teoria da hereditariedade. Conexões deste tipo podem ser traçadas direto de dentro das fundações da mecânica. E aqueles que acreditam que a lei da energia na física, ou que as ondas ou a mecânica quântica, ou a teoria cinética do calor foram “limpadas” dessas conexões filosóficas, simplesmente falham em entender que essas conexões são integrais e são formadoras da percepção em si. Neutralizá-las não significa liquidá-las. O cientista exato meramente fecha os seus olhos para elas. E ainda assim, ele prefere acreditar que só a mecânica possui exatidão. O matemático também assume que a matemática é a única fonte de exatidão. O que ele negligencia é que o conceito de exatidão, como que de propósito, é um conceito relativo, que recebe significado somente se as premissas são concedidos. Por exemplo, nós não podemos obter a absoluta exatidão de medidas, mas nós podemos fazer nossas medidas tão exatas quanto possíveis dentro de certas condições. Não existe o absoluto e universal conceito de perfeição, somente um específico resultado que satisfaça determinadas condições. Sendo assim, só existe um conceito específico de exatidão, e somente este conceito e nada mais é expressado na matemática e na exatidão casual.

Kant acreditava que só havia ciência enquanto houvesse a matemática. O mesmo erro pode ser encontrado no meio de diversos matemáticos e físicos que acreditavam que sozinhos possuiam a exatidão. Entretanto, o que eles possuem está apenas dentro do seu campo. Esta exatidão também se encontra nos movimentos dos animais, nas emoções e nas paixões do homem. O Hexâmetro de Homero ou a Ode Pindárica possui tanta exatidão quanto uma relação causal ou uma fórmula matemática. Mas esta ritmicidade e exatidão métrica é de uma outra e maior ordem. O fato de que esta não pode ser calculada não é razão de chamá-la menos exata do que os resultados disso ou daquela medida quantitativa.


Trecho do livro "O Fracasso de Tecnologia" - Friedrich Georg Jünger

Friedrich Georg Jünger (1 de Setembro de 1898, Hannover - 20 de julho 1977, a Überlingen) foi um poeta alemão, autor, ensaísta e crítico cultural. O irmão mais novo de Ernst Jünger, ele se ofereceu para o serviço militar em 1916 e ficou gravemente ferido na Batalha de Langemarck. Após a Primeira Guerra Mundial, ele estudou direito e cameralismo nas universidades de Leipzig e Halle-Wittenberg.

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